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Laço de 12 Braças



           "No campo surgiam com laços e aprisionavam o inimigo com destreza que não sabiam no uso do mosquetão." Observação de John Luccock, em 1809, referindo-se aos gaúchos de uma milícia de Rio Grande.
            Nos tempos indômitos da província de São Pedro do Rio Grande do Sul, laços e boleadeiras foram imprescindíveis para os gaúchos que precisavam capturar bois e cavalos selvagens. As boleadeiras viraram peça de museu, tamanha a violência com que se abatiam sobre animais e homens, às vezes espatifando ossos, mas o laço continua sendo utilizado como instrumento de trabalho.
           A origem do laço é de diversos países e onde havia captura de animais estilizado ou não o laço surge.
           No Rio Grande do Sul, o uso da corda de couro trançado para laçar animais foi introduzido pelos índios guaranis, das missões jesuíticas. O laço surgiu em decorrência da necessidade de capturar as manadas de gado – o pilar econômico da província, pois fornecia a carne como alimento e a courama para as habitações e os utensílios. (Prear capturar gado selvagem)

    Origem do gado no Rio grande do Sul.
    O lendário Maneco Pereira ganhou fama ao laçar animais utilizado os pés.
    Manuel Bento Pereira (1848-1926)
           O laço também foi usado em tempos de ira e guerra. Há relatos de gaúchos que teriam arremetido contra infantarias, laçando canhões fumarentos.  Há relatos de 1809, de que os rio-grandenses eram mais hábeis no laço do que ao gatilho dos mosquetões. O historiador Alfredo Varela, no livro História da Grande Revolução, relatou a eficácia da laçada:
           – ... Com ela não erram jamais a pontaria ou o golpe... é valente e arrojada as atitudes destes cavaleiros, à distância de 30 metros, com a velocidade de uma bala e com a mesma é seguro ou arrastado o objeto alcançado. O sargento Nóbrega foi vítima desta arma. Tenhas medo desta arma nas mãos de um gaúcho a galope!
           O laço é um dos instrumentos mais úteis para o gaúcho no pampa, tanto nas troperiadas de gado como nos trabalhos rotineiros de campo ou nos rodeios.
           
    Serve para laçar gado e cavalos, quando algum animal foge ao controle ou precisa ser curado/marcado ou castrado. No caso das competições ele pode ser “chumbado”, ou seja, trançado ao redor de um cordão com pequenos pesos de chumbo. Isto dá mais peso e precisão na laçada, especialmente se no dia da competição estiver ventando muito.

           O comprimento do laço é variável, mas os maiores medem uma base de “12 braças” (medida equivalente à distância entre as duas mãos quando se está com os braços abertos).
           Hoje em dia, além de seu uso tradicional como instrumento de trabalho, o laço tornou-se uma peça decorativa bastante procurada por visitantes que vêm ao pago gaúcho. Por esta razão, a peonada têm conseguido aumentar sua renda através da venda de laços como artesanato para turistas.
           Antes de estar pronto para o manuseio, o couro de vaca utilizado pelos peões em seus artefatos precisa passar por uma série de processos, que serão descritos a seguir. Como dizem no pampa, “da vaca só não se aproveita o mugido”...
     1.       O primeiro passo é a retirada do couro do gado recém-abatido. Este couro obviamente vem com impurezas – restos de carne e gordura, sangue e pelos. Para iniciar seu preparo, é preciso realizar dois processos: “DESPELAR” e “LONQUEAR”, ou seja, retirar os pelos e restos de carne e gordura com auxílio da faca “companheira” muito bem afiada. Durante a retirada do couro, deve-se ter extremo cuidado para não “feri-lo” com a faca pois qualquer corte inviabilizará seu uso para confecção do laço.
     2.       A seguir, o couro é ESPETADO ou ESTAQUEADO – esticado ao sol e amarrado próximo ao galpão dos peões, em uma armação retangular de madeira. É interessante destacar que, durante este processo, aves como o carcará ou galinhas auxiliam na retirada de restos de carne que porventura tenham permanecido no couro.
     3.       Com o couro já seco, é hora e LONGUEAR a peça. Isto significa cortá-lo em uma espiral de fora para dentro, formando uma longa tira única, da mesma forma que ocorre quando se descasca uma laranja. Se o couro estiver muito duro, ele pode ser SOVADO com o instrumento chamado sovador – um pequeno toco de madeira com uma fenda longitudinal, por onde a tira de couro é passada e dobrada continuamente para amaciar e ficar mais maleável.
     4.       A próxima etapa é TIRAR OS TENTOS – cortar esta tira única em tirinhas mais finas, da espessura que será utilizada na confecção do laço. Para este serviço, ela é pregada a um dos esteios do galpão dos peões.
     5.       Tudo pronto está na hora de trançar o laço, certo? Ainda não... Se os tentos forem trançados neste estágio, as quinas estarão afiadas (imagine um corte transversal ao tento – ele terá a forma de um retângulo com quatro cantos de 90 graus) e acabam cortando os tentos sobrepostos, diminuindo assim a resistência do laço. Portanto, eles precisam ser DESQUINADOS, ou seja, com a faca mais afiada ainda, o peão deve arredondar os cantos de cada tento (geralmente os laços são trançados com 4 tentos, técnica conhecida simplesmente como “trança de quatro”). Imagine “desquinar” com a faca, com extremo cuidado e precisão, 48 “braças” de couro com largura de menos de 1 centímetro!
     6.       Finalmente, é hora de trançar o laço. Para isto, o melhor horário é de madrugada, antes do sol nascer, quando o sereno deixa o ar mais úmido e o couro mais maleável. Os tentos são novamente pregados (ou amarrados) no esteio do galpão, e o peão começa a trançá-lo. A cada trançada, o tento é passado pelas costas e tensionado pelo próprio peso do gaúcho, que inclina seu corpo para trás, deixando a trança bem ajustada.

    Para outros produtos (confecção de arreios, cadeiras, redes, botinas, etc), o couro precisa ser trabalhado em um curtume, onde passará pelos seguintes processos:
     1.       Depois de retirado, o couro é colocado em um tanque com palha de arroz, que ajuda a secá-lo evitando seu apodrecimento.
     2.       Já seco, passa-se o couro para outro tanque com sal grosso, que o conservará até que o curtumeiro esteja disponível para trabalhá-lo.
     3.       O curtumeiro retira este couro do sal e coloca-o em um tanque com cal e água, para retirar os restos de carne, gordura e pêlos.
     4.       A etapa seguinte é o curtimento do couro em um tanque com água e casca do angico vermelho (uma árvore leguminosa muito popular no Pantanal, rica em tanino). Isto o deixará com uma cor mais bonita e ajudará na sua conservação.
     5.       Após este processo, o couro está pronto para ser trabalhado, passando por procedimentos semelhantes aos descritos anteriormente para a confecção do laço.

  • Sobre

  • História de laços Joca Martins
    Um boi brasino dorme nesse laço o sono eterno de quem já se foi hoje não sente mais os tironaços que lhe judiavam quando era um boi.
    O fio da faca lhe roubando a vida a dor do ferro ensangüentando o chão a luz se apaga pois já está cumprida um boi sangrado tarde de verão.
    Couro estaqueado com o maior capricho é de brasino, vai dar laço forte que sina estranha que carrega o bicho servindo os homens até depois da morte.
    Hoje o brasino é mais um doze braças que vem na anca do meu pingo mouro nada é pra sempre tudo um dia passa lembra-me o boi de quem só resta o couro.
    Um boi brasino dorme nesse laço o sono eterno de quem já se foi hoje não sente mais os tironaços que lhe judiavam quando era um boi.
    Quando eu atiro esse meu velho laço e ele viaja em busca de outro boi bate nas aspas cerra num abraço eu vejo o antes junto do depois.
    O boi não quer o laço do brasino senta, escarceia como ouvindo alguém que diga: luta contra o teu destino de ser um laço como eu sou também.

Informações

Laço de 12 Braças
Outros, RS
Região das Missões. Rio Grande do Sul.
Telefone: (55) 3312-9485

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