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19/03/2019 11:03


Embarcadouro de Bossoroca Por João Antunes

BOSSOROCA TEVE UM EMBARCADOURO DE GADO QUE FOI UM VERDADEIRO PORTO SECO NA REGIÃO
Por um período de quase 40 anos o Embarcadouro de gado a pé marcou época nesta localidade. Situava-se logo na entrada da vila de Bossoroca junto à Rua das Tropas, onde atualmente em parte do terreno está situado o Monumento Noel Guarany, era de propriedade da Associação Rural de São Luiz Gonzaga e a inauguração ocorreu dia 20-07-1948, quando Bossoroca era, então,  3º. Distrito daquele município. Para o evento chegou um trem passageiro especialmente fretado oriundo de São Luiz Gonzaga com uma caravana composta por diversas autoridades e produtores que se juntaram aos daqui e houve um grande churrasco de confraternização no ato inaugural. 
A balança do Embarcadouro foi fruto de uma doação feita pelo Instituto de Carnes do Rio Grande do Sul onde, desta região, os bossoroquenses eram os maiores sócios. Toda a madeira do mangueirão e dos seus compartimentos que serviam para acomodar em torno de 400 bovinos era de pau-ferro e tudo foi trazido para cá de carroça.
Os pesadores foram  Romalino Araújo, Dorival Batista, Ciro Lopes, Clarimundo Goulart (Negro), Vitel Aquino Duarte, Lourival Amaral e Walmor Aquino dos Reis.
Os tropeiros foram Braulino Paula dos Santos, Hipólito Vieira Bonfim (também condutor de tropas),Valeriano Fabrício Barcelos, Marco Saraiva (Marcão), Albino Ferreira Antunes, Chico Capoeira, Leodoro Pereira, Nezinho Pereira, Adão Juvino Gaspar, Diamantino Fortes, Ney Correa Fortes, Maronêz Neves Aquino, Adão Catirino, Olímpio Trindade, Getúlio Antunes, Adão de Souza Medeiros, Antonio Souza, Lodonho Nascimento Pereira (condutor de tropas), Hermelino Cardinal, Avelino Cardinal, Antonio Viana, Antonio Hilário dos Santos Vargas, “Lurdes” Lemos, Leovegildo Gomes Machado (Seu Leove), entre outros.
Os condutores de tropas foram Hipólito Vieira Bonfim, Braulino de Paula Santos, “Lurdes” Lemos.
Os compradores de gado foram Mário Alves Pereira, João Cândido Dutra, Edmar José Dutra e Anápio Batista, Lodonho Nascimento Pereira, Ivo Vieira Marques, João de Deus Ferreira (Dedéco), Dorvalino Garcia Ribeiro e Julio de Souza (Mulato).
Devido ao fato de que Bossoroca era servida por linha férrea, ter bons campos para a pecuária e a pressão dos fazendeiros locais optou-se pela construção do Embarcadouro aqui. O senhor Lodonho Nascimento Pereira, é uma das testemunhas oculares desta história e alguém que assistiu a inauguração quando era menino, mais tarde foi comprador de gado de 1967 até 1971, acompanhou embarques e transporte ferroviário, que era composto pela maria-fumaça, vagões de carga e o vagão dos tropeiros e seus pertences como pala, pelegos, saco de viagem, etc., até o destino e viu nos frigoríficos em Rosário do Sul e Livramento todo o processo de industrialização da carne bovina. 
As escalas de trens eram requeridas pelo pessoal dos frigoríficos através do telégrafo à RFFSA. Quase sempre chegavam os trens com cerca de 10 até 12 vagões por composição onde em cada vagão, em média, eram colocados 20 animais. Algumas vezes foram despachados até 3 trens por dia. A safra do gado gordo ocorria de março até junho com o foco nos meses de abril e maio. Além da Estação Ferroviária, nas imediações, havia o bolicho e açougue do senhor Ivo Aquino.
O gado, além de Bossoroca, vinha de parte do município de Santiago, São Luiz Gonzaga, Santo Antonio das Missões, São Nicolau e Garruchos. Muitos desses percursos a pé levavam em torno de 5 a 6 dias. Aqui para a expedição descontava-se 20 kg ou 5% do peso por animal como “quebra técnica” e tudo era registrado nos documentos chamados “romaneios”.  
Naquela época o trabalho era penoso para os tropeiros e pessoas envolvidas nessas lides, pois boa parte do gado era composta de animais bravios quando, por exemplo, numa ocasião dentro do mangueirão um boi de aspas pontiagudas feriu uma égua encilhada arrancando-lhe parte do intestino onde o cavaleiro foi obrigado, na hora, ao apear do animal, sacar do seu revólver e desferir um tiro matando a sua égua de montaria para evitar o sofrimento ainda maior do animal ferido.
O roteiro do trem era basicamente Bossoroca, Santiago, Dilhermando de Aguiar, Cacequi e daí para Rosário do Sul e Livramento. Em Dilhermando de Aguiar, os tropeiros, no retorno, pernoitavam no Hotel Fronteira, pois a viagem daqui até Livramento durava cerca de 30 horas. Durante a noite os tropeiros, com lanternas precárias e guizos recorriam os vagões geralmente nas Estações Ferroviárias de Santiago e de Mata. Nestes locais não havia bueiros nem declives acentuados, pois noutros tempos alguns homens nesse afã noturno haviam-se acidentado. 
Para o pagamento de cada fatura de gado era feita a opção no “romaneio” através de Promissória Rural, que era descontada na cidade de São Luiz Gonzaga através da agência do Banco da Província ou ainda Banco Nacional do Comércio, Banco Agrícola Mercantil e Banco do Brasil. O pagamento era feito exato, ou seja, sem dispensar nenhum centavo e isto também era válido para os recebimentos.
Os acertos das comissões no final da safra eram feitos em Rosário do Sul com a presença dos compradores de gado que se reuniam na sede do Campo de Golf de propriedade da Swift do Brasil onde, ao final da confraternização, geralmente eram distribuídos brindes como charutos cubanos. Para ir até Rosário do Sul quando não fosse de trem era por estrada de chão, sem asfalto, e a passagem sobre o Rio Ibicuí era por barca.
O senhor Lodonho Pereira também relata que ele fazia contatos comerciais com o mister Charles Whaigt, que era um escocês chefe do departamento de compras e de matéria-prima da Swift do Brasil, de Rosário do Sul e também com o senhor José Moreira, do Frigorífico Armour, de Livramento. Na Swift do Brasil o abate diário era em torno de 800 animais. Esse abate era feito num local chamado cancha de abate por um senhor que popularmente era chamado de carrasco, que desferia uma marretada certeira na testa de cada animal para, em seguida, ser sangrado e assim dar-se o início ao processo de beneficiamento/industrialização da carne. Na Swift do Brasil, de Rosário do Sul, havia em torno de 1500 funcionários. Nas câmeras frias cada grupo de funcionário no manuseio de cortes trabalhava em sistema de rodízio durante 15 minutos por causa da intensidade do frio. Os produtos vendidos era carne in natura e cozida. A rotulagem era manual. Grande parte dos alimentos cozidos os frigoríficos exportavam aos Estados Unidos, à Inglaterra e outros países. As pessoas eram revistadas ao entrarem e saírem dos frigoríficos. A empresa Ferro Carril, da Argentina, fazia a coleta e o transporte da carne bovina industrializada diretamente de dentro do frigorífico em Livramento até o porto de Mar Del Plata no país vizinho. 
Também foram comercializados animais bovinos daqui para o Frigorífico Anglo, de Pelotas.
Para os períodos após a safra do gado, a Swift do Brasil em Rosário do Sul estimulou, por vários anos, o plantio de ervilha, quando foi criada a ervilha enlatada da marca Swift, pois deste modo o frigorífico conseguia manter o quadro de pessoal vinculado à empresa por muito mais tempo.
Na década de 1980, foram encerradas as atividades, as oportunidades deste tipo de negócio e a história do Embarcadouro que perdeu espaço para uma nova realidade que foi a chegada do asfalto, dos caminhões boiadeiros e a aquisição de balanças para a pesagem do gado diretamente nas propriedades rurais. Por derradeiro, sintetizamos este assunto com as palavras do senhor Lodonho Pereira: “sou um dos que presenciou a história durante todo o período de existência do Embarcadouro, verdadeiro porto seco, que movimentou a economia e gerou renda; foi o ganha-pão de muitos tropeiros que traziam tropas e de outros tantos que se juntavam para o embarque e transporte ferroviário de bovinos até a fronteira. Foi este o local onde a fonte de riqueza da pecuária da região teve um marco em Bossoroca”.
Portal: Escritor João Antunes poeta, historiador e compositor 
Facebook = João Carlos Oliveira Antunes
Bossoroca (55) 9999-42970 joaoantunes10@terra.com.br 

Recordando o Mangueirão 
      No dia vinte de julho
Lá do século passado
No ano quarenta e oito
É que foi inaugurado,
De apelido Mangueirão
Sendo um marco estampado,
Porto Seco em Bossoroca:
O embarcadouro de gado.
      Ali na entrada da vila
Era um cartão de visita,
Um centro acolhedor
Servindo aos pecuaristas,
O cercado de listão
Que de pau-ferro talhado
Era escoro e proteção
Pra os torunos aporreados.
      Parece que ainda escuto
Sons de guizos e mugidos,
Os tropeiros resolutos
Completando o alarido
Na lembrança que me passa
Nas trilhas do pensamento
Do trem maria-fumaça
Partindo pra Livramento.
      Dos campos da Buena Terra...
Por coxilhas e peraus,
Santo Antonio e Santiago,
São Luiz e São Nicolau
Vinham tropas pra o embarque
E repontadas a pé
Por tropeiros de ofício,
De garra, tenência e fé.
      Do Mangueirão pra os vagões
Dava-se o carregamento,
Muitos anos e missões,
Tantos acontecimentos,
Então chegou o asfalto
E apagou bem ligeiro
O “rastro” dos trens de carga
Com caminhões boiadeiros.
Letra: João Antunes e Afrânio Marchi.
Música: Jorge Leal. 
Site: Monumento Noel Guarany 
Site: Memorial Noel Guarany 
Site: Os Quatro Troncos Missioneiros 

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