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Santo dos Tropeiros



    Quando os bandeirantes se retiraram e acabou a guerra Guaranítica, os índios que tinham estudo passaram a ser andarilhos, buscando rumo, refúgio, um modo ou jeito de viver. O que tanto foi chamada de reguaranização dos homens, quando indios alfabetizados, cultos e evangelizados voltavam a sua origem nativa, sendo a Cruz Missioneira a grande característica destes guaranis, geralmente em cordão de couro ao pescoço.
    O que é hoje Santo Antônio das Missões, antes vila 13 de Janeiro e antes 4° Distrito de São Borja, por volta dos anos de 1850, um nobre conhecido como Barão fundou estância, constituiu casarão, patrimônio e poder. Cresceu à custa da mão do escravo, criação de gado, cavalos e mulas. Criou tudo nos pagos finos do Itaroquém e fornecia-os para o Império. 
    Por suas terras cruzou o índio teatino Tibiriçá, que sabia ler, coisa rara na época e se fez professor contratado para dar aula às filhas do Barão, que o alojou. 
    As filhas eram jovens adolescentes, encantaram-se pelas histórias e lendas que o Guarani contava sobre as cidades de pedra cupim, o evangélio, as guerras contra os europeus e os jesuítas. Tudo as encantavam e causavam suspiros. Nas horas de folga também ensinava os escravos a ler e escrever.
    Então o Barão percebeu que suas filhas brigavam pelo índio e ao saber disso ficou furioso, foi ter uma conversa com Tibiriça, a discussão foi de arrancar toco, Maura e Taura se peitando olho no olho, o índio nada sabia e disse que nada queria: “Não sou escravo,não sirvo de enfeite ou brinquedo, estou cansado de guerra” e saiu a passo Itaroquém a fora. 
    A razão foi o erro do Taura, as coisas tomaram forma e o patrão ficou ofendido. Cego de raiva ordenou os escravos que fossem atrás de Tibiriçá e o coureassem vivo, queria sua pele para fazer um surrão de erva-mate (cesto de couro que guardava mantimentos junto à sela dos cavalos).
    E dai em diante foi só amargura, Tibiriça sentindo a situação brasina, não tinha opção, teria que ganhar o horizonte e deitar o pelo no pampa a fora.
    Quatro escravos o pegaram na estrada, o estaquearam no chão e começaram a lhe arrancar a pele a navalhadas. 
    Uma tropa que passava parou e peões e tropeiros foram falar com os escravos e o corpo de Tibiriça já jazia no campo.
    -"Por favor, cortem orelha, dedos, mas não judiem do morto deste jeito!"
    Um dos escravos falou:
    -"Foi triste patrão, matamos para evitar tanto sofrimento a quem só o bem nos trouxe, mas era ele ou nós. Morreu dizendo que sempre teve boa intenção, que lhe tiravam a vida, mas não a razão."
    Os peões fizeram uma cova rasa naquele local. Um barral, mistura de sangue e terra vermelha que hoje é torrão missioneiro que marca os caminhos das tropas do Itaroquém.
    Durante o enterro do corpo carreado, se fez uma prece e a tropa se deslocou rumo a São Borja.
    Na entrega da tropa, os tropeiros conheciam todo o rebanho, cabeça por cabeça sabiam contar, estavam mais espertos e o cansaço da jornada havia sumido. Negociaram e muito felizes retornaram.
    No caminho de volta perceberam que tinha acontecido algo, na hora das contas estavam mais esclarecidos como nunca estiveram e seus pensamentos voltaram-se para o túmulo de Tibiriça. 
    Apearam em frente à sepultura e colocaram tranças de crina de cavalo, pedaços de couro e panos para servir de pele ao morto e a história se espalhou e se fez fato.
    O Barão se perdeu no tempo e os campos do Itaroquém tem até hoje um missioneiro que sempre vaga coberto de razão.
    O local se fez ponto de parada na estrada, caminho dos tropeiros e comerciantes.  Os que ali paravam tinham mais sucesso nas empreitadas e changas. Por isso, toda a vez que os gaúchos se unem para um trabalho, festa ou negócio que tenha de se explicar invernada, que vai dar multidão ou que vai ser julgado, avaliado, fazer prova. Muitos vão acender velas junto ao túmulo daquele que se defendeu, argumentou até o último suspiro.
    Dizem os peões, índios velhos já curtidos de troperiadas, que param, o cumprimentam, oram pedindo clareamento das ideias na hora da entrega do serviço e Tibiriçá os ajuda a ler e contar na ora da entrega. Vídeo do Túmulo de Tibiriça.
    Dizem que nas orações, nos pedidos junto à cova, se tem a impressão de ouvir a voz do intercessor, do professor dos tropeiros a dizer e sussurrar “Não é o estudo que transforma o mau em bom ou o diploma que te traz identidade, inteligência, faz por ti. O estudo, o trabalho, teu esforço, ninguém te toma”. 
    Quando as graças são alcançadas, os tropeiros fazem uma trança das crinas do cavalo, pedaços de couro e depositam por cima da cova de Tibiriça para que ele se abrigue nos campos do Itaroquém.
    Hoje alguns tropeiros também o chamam de Biçacó.
    Verção Roger Jaekel 

  • Sobre

  • "Neste local o Nego Betão quando patrão do Piquete Farrapos levava a Chama Criola homenageando e pedindo proteção e clareza, para que ninguem fosse mal interpretado e as brincadeiras tivessem todo o efeito educativo que queria".
    O túmulo está num lugar lindo, os pastos, a vista é um verdadeiro pampa missioneiro.
     “Itaroquém, onde a terra vermelha é mais vermelha”!
    Informações sobre o Túmulo do santo Missioneiro

Informações

Santo dos Tropeiros
Santo Antônio das Missões, RS

Telefone: (55) 3313-1714

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