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23/04/2020 18:43


Otávio Reichert - INTEGRANDO 23/04/2020

Eu sei que aumentou minha fama de louco depois de insistir que me levarem até a tapera, e lá procurar aquele bilhete, escrito há mais de trinta anos. Diga-se ter sido a morada da minha infância, meu melhor pedaço de vida.

A história se inicia nos meus 12 anos. A morada ficava próxima da área urbana de uma pequena cidade. O asfalto cortava os poucos hectares de terra, girando assim pra direita. Naquele dia eu lidava na plantação do outro lado, os bois puxando o arado, conduzidos por frágil menino a segurar o arado no sopé da ladeira. As vergas ficavam tortas, disse a mãe anos depois. Foi quando o Bilu atravessou a rodovia, vindo na minha direção. E assim assisti a triste cena, viva inda hoje cá comigo. O caminhão bem que freou, porém meu amigo titubeou para sair da pista. Vi a cena e ouvi seu último latido. Dor e agonia foi a minha, Um filete de sangue a escorrer da branca pelagem. A sua imobilidade foi sentença maior. Corri até ele, blasfemando o caminhoneiro, que acenou a cabeça na janela gritando algo como “não tive culpa”.Digitalizar0186Aos prantos o enterramos, um dos cães mais inteligentes que conheci. Certos animais parecem fazer parte da gente, inda mais na infância. Naquela noite o sono não veio, uma vontade de socar as paredes, que desandou em silencioso choro. O pai, embora doente, foi enérgico censurando também meu irmão, dizendo que o homem deve ser forte; mas bem lembro sua voz embargada. A luz do candeeiro testemunhou as palavras que escrevi, que vindas à mente foram arranhadas com o lápis mal apontado; lembro da folha enfiada numa fresta da parede do quarto, num oco da tábua com o pilar do canto.

Trinta anos depois, eu residindo em humilde casa, quando o vizinho trouxe um cachorrinho, que batizei de Bilu. Daí que começaram os sonhos com ele, com o Bilu da infância. De espaçados passaram a ser diários, principalmente durante a demolição da velha morada. Teria o escrito algo a ver com o Bilu que o vizinho me dera?

Sem recordar o que escrevera, cismei místicas com aquela mensagem, o que me fez visitar a tapera. Por sorte o pilar da parede do bilhete estava ali, pois o trator metera a pá pela frente, amontoando a madeirama junto ao velho pilar. Firmei os óculos para ajustá-los aos olhos embaçados pelo suor que escorria da testa, num misto de cansaço e ansiedade.

Tem coisas que ninguém entende. Minha única companhia era o Bilu, este agora meu grande amigo. Os pais haviam falecidos, a mãe primeiro, e o pai partiu antes mesmo da venda do rancho. Emoção maior senti ao encontrar o bilhete. As letras opacas, apagadas, impossibilitavam a leitura, ao menos para meus olhos turvos.

Foi o neto que decifrou a escrita, para alerta maior, e confirmando a previsão médico da visão. Trouxe também esperança maior no amanhã, na certeza de que Deus existe. Coincidência ou do acaso, voltei a sentir-me menino tal o Bilu, e com ele nova etapa de vida.

A mensagem?  Clara e simples: “Um dia ele voltará para ser seu guia. Ensina-o enquanto seus olhos ainda veem!”

Do livro Urso Preto, de Otavio Reichert

 

HumorQual raça de cachorro consegue pular mais alto que uma árvore?

Qualquer uma, pois as árvores não pulam.

 

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